se eu pudesse entrar na sua vida
Já fui legal, esperto, inteligente, engraçado. Já fui herói. Várias vezes.
Fui conforto, carinho, amor.
Fui ausente, errado, bravo, rude, injusto.
Fui autoritário, imperativo, paternal, fraternal.
Fui orgulhoso, fiquei orgulhoso.
Algumas coisas mais, outras coisas, menos. Muitas ao mesmo tempo. E não necessariamente nessa ordem.
Agora, cada vez mais, sou espectador. A gente faz filho para o mundo, não pra gente.
Cada dia que passa, a canção faz mais sentido pra mim.
só para registro
Acordei essa madrugada às 2h30, com o telefone tocando. “Pai, tô chegando.”
Dormi no sofá (aguentei firmemente até 1h), esperando minha filha voltar do show do Black Eyed Peas, por que ela estava sem as chaves de casa.
É o começo do fim.
controle de qualidade de batatas-fritas que fazem “creck”
Sou péssimo exemplo de alimentação para os meus filhos. Fato.
Tudo aquilo que te dizem quando é jovem, de que “quando você tiver filhos, você vai ver”, é uma dolorosa verdade. Acho que a primeira experiência que você tem desse tipo é na hora de alimentar seus filhos.
Minha mãe sempre nos deu a liberdade de comer o que queríamos. Pelo menos o que nosso dinheiro podia nos dar.
Sempre fui o filho mais chato na hora de comer. Meus irmãos não deram o trabalho que dei aos meus pais. Minha mãe, corajosa, descascava salsicha para o seu primogênito. Você já tentou tirar a pele de uma salsicha? Tarefa quase impossível, principalmente para quem ainda tinha que servir a refeição para 3 crianças. Batata frita? Eu só comia se ela fizesse “creck”. Sério. Algumas batatas eram rejeitadas de meu prato pelo aspecto, outras eu quebrava, mas algumas poucas eu só descobria testando, na mordida. Não fez “creck”, não comia.
Enquanto a Srta. B era pequena, minha autoridade bastava. Tem que comer porque é importante, faz bem, deixa forte. Agora, adolescente, ela reclama mais do que nunca. Só tenho duas opções: ou imponho minha autoridade de pai, ou provo o danado do repolho. Dar o exemplo, dizem, em uníssono, minha mãe e minha esposa.
Aliás, não recomendo esse dialogo na frente de nenhuma avó. É um momento que deve dar uma grande satisfação aos pais. Não é vingança, tá mais pra uma coisa de continuidade, de se enxergar nos filhos, coisa e tal. Tanto pro bem quanto pro mal, deve ser bacana ver isso acontecer. Mas como avô ou avó, não como pai ou mãe.
Nunca tive que descascar salsicha, ainda bem. Srta. B não come de tudo, mas come bem. Sr. D, foi apelidado pela vovó materna de garoto-avestruz, também não tem me dado trabalho.
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